Em fevereiro de 2013, quando uma grande coluna de fumaça preta se ergueu sobre a cidade, os moradores de Joaquim Távora, no Norte Pioneiro do Paraná, custaram a acreditar no que viam. Único patrimônio histórico tombado da cidade, o charmoso prédio da antiga estação ferroviária ardia em chamas. O último exemplar construído em peroba, dos muitos que havia na região, se desfazia sob os olhares atônitos. Uma década depois, porém, a cidade comemora o centenário da estação reerguida das cinzas.
A reconstrução ocorreu por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a concessionária da linha férrea, a América Latina Logística (ALL) e o Ministério Público Federal (MPF). Além da reconstrução em Joaquim Távora, o acordo resultou no restauro de outras cinco antigas estações da região: duas em Jacarezinho, e as outras em Santo Antônio da Platina, Andirá e Bandeirantes. Como contrapartida, os municípios deveriam assumir a conservação dos prédios, dando-lhes finalidade social que preservassem a história e a cultura de cada município.

Em Joaquim Távora, a iniciativa de restauração e preservação do patrimônio histórico não apenas reavivou a memória da cidade, mas também injetou uma dose de vitalidade e vigor na comunidade local. O prédio abriga hoje a sede do Departamento Municipal de Cultura, que utiliza o espaço para oferecer uma série de atividades, como um museu, o cineclube, que ocorre uma vez por semana; oficina de teatro, com uma turma para estudantes e outra para a comunidade em geral, além de exposições de obras de artistas do Norte Pioneiro e de outras regiões.
Patrimônio da cidade
Flavio Cuervo, que está à frente da Divisão Municipal de Cultura desde 2017, avalia que a cidade é privilegiada por conservar um prédio da importância da antiga estação ferroviária. “É muito mais que um prédio. É um ícone da história da cidade e de toda a região que fica de herança para as futuras gerações”. Para ele, manter o espaço “vivo” é fundamental para a preservação do patrimônio. E isso inclui tornar a cultura atrativa para todos. “Nas sessões do cineclube, nós fazemos a decoração de acordo com o filme. Distribuímos doces, pipocas. Assim, as pessoas se sentem bem aqui dentro, cria um vínculo, uma sensação de pertencimento”, conta.
A programação do centenário da estação ferroviária, segundo Flávio, foi organizada às pressas. Sem uma base de arquivo confiável à disposição, os gestores municipais acreditavam que a inauguração do prédio, ainda com o antigo nome “Affonso Camargo” tivesse ocorrido em 1926. O equívoco, no entanto, foi alertado pelo historiador e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Roberto Bondarik, nascido na cidade vizinha de Quatiguá e especialista na história do Norte Pioneiro.

A principal solenidade ocorreu no feriado Sete de Setembro de 2023, data exata do centenário. A cidade aproveitou as comemorações do Feriado da Independência para celebrar o marco histórico municipal. Um placa em alusão ao centenário foi inaugurada com a presença de autoridades e apresentações musicais e teatrais deram o tom artístico do evento. A programação se estende até o fim do ano.
Estação Ferroviária
A Estação Ferroviária Affonso Camargo foi inaugurada como um marco essencial para o desenvolvimento local. Construída inteiramente em madeira, seguindo o novo padrão de estação de 3ª classe, a estação foi inicialmente um ponto crucial na exportação de café, algodão e madeira da região.
A linha faz parte do Ramal Paranapanema, atualmente desativado que ligava Ourinhos (SP) a Jaguariaíva, nos Campos Gerais do Paraná. A rota foi de extrema importância nos primeiros anos de colonização da região, mas começou a perder importância ao longo das décadas. A partir de 1979, com a abertura da linha Apucarana-Uvaranas e devido à obsolescência e complexidade da linha original, entrou em total decadência.
O transporte de passageiros cessou em 1979, e, em 2001, o tráfego de cargas foi suspenso pela concessionária ALL, levando ao desuso e abandono da linha. Com isso, os prédios das antigas estações se tornaram alvo de vandalismo. Muitos não resistiram e desapareceram diante do abandono e descaso do poder público.
Reconstrução
O incêndio, cuja causa ainda é incerta, ocorreu quando o prédio já constava na lista de restauro do TAC entre a concessionário e o MPF. Com o estrago, apenas o alicerce de alvenaria resistiu. Então, um estudo precisou ser feito para que a reconstrução resguardasse o máximo de características da edificação original.

Após a pesquisa e elaboração do projeto, o prédio foi reerguido, em 2016. A construção tem 270 metros quadrados e foi feita com madeira de cedro, uma vez que peroba encontra-se em grande escassez no mercado.
Se você se interessa em conhecer mais sobre as origens do Norte do Paraná, é aficionado por trens, ou quiser conferir as atrações artísticas de Joaquim Távora, não deixe de colocar a Estação Ferroviária no seu roteiro.
🏠 A antiga Estação Ferroviária fica no Parque Linear, próximo da Rua Gerônimo Vaz Veira, bem no centro da cidade.
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