A tragédia do submersível Titan, que implodiu a 2.500 metros de profundidade nas águas do Atlântico Norte, causando a morte de cinco pessoas, foi um dos assuntos mais comentados de 2023. O objetivo do grupo de milionários ao entrar na geringonça guiada por um joystick de videogame era ver de perto os destroços do RMS Titanic, o gigante dos mares que afundou em 1912. Naquele mesmo ano, enquanto 1.514 pessoas perderam a vida no célebre naufrágio, começava a última grande leva de garimpo no Rio Tibagi, que terminou com muitos mortos afogados, sem holofotes, em outra geringonça: o escafandro.
A armadura de metal com uma cúpula de vidro que lembra um elmo de um guerreiro medieval era a mais avançada tecnologia disponível para a exploração subaquática no início do século 20. Além do capacete de bronze que pesava 15 quilos – o mergulhador usava uma camisa de lona e dois pesos de chumbo de 30 quilos cada, para mantê-lo no fundo do rio. Enquanto isso, um parceiro bombeava o oxigênio que abastecia o mergulhador por uma mangueira de borracha de 20 metros de comprimento. Para retornar à superfície, o mergulhador precisava subir por uma escada.
Obsessão
A obsessão une as duas histórias. Enquanto os exploradores morreram na tentativa de se aproximar das ruínas do Titanic, os garimpeiros do Rio Tibagi arriscavam a vida para encontrar os famosos diamantes. O historiador Luiz Leopoldo Mercer [1912-1986], que dá nome à Biblioteca Municipal de Tibagi, registrou em seu livro “Última Aventura no Garimpo” (Estante Paranista, 1981) que uma grande estiagem em 1912 fez o nível do rio recuar a ponto de fazer ressurgir antigos garimpos abandonados de meados no século XVIII. A grande seca foi o estopim para atrair uma grande leva de garimpeiros de todo o País, em especial de nordestinos oriundos de regiões mineiras.
O livro “Tibagi nas Águas da História”, escrito pelo jornalista Widson Schwartz e publicado em 2014 pela editora ABC Projetos, aborda a fascinante história dos “diamantes de encher chapéus.” Um dos capítulos deste livro é dedicado ao apogeu da atividade de garimpo no rio Tibagi, que ocorreu entre 1930 e 1936. Durante esse período, Tibagi se transformou na capital brasileira do diamante, atraindo cerca de 3.000 garimpeiros baianos equipados com 265 escafandros. Essa informação é baseada no relato de Polybio Cotrim, que chegou a Tibagi em 1933, após ter passado por garimpos em Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás.
O museu
Hoje em dia, poucos aventureiros surgem de tempos em tempos em busca das lendárias pedras de diamante, mas a frenética corrida pelo diamante é coisa do passado. Uma parte desse intrigante legado é preservada no Museu Histórico de Tibagi. Inaugurado em 3 de abril de 1987, o Museu Histórico Desembargador Edmundo Mercer Júnior é o único no sul do país que narra a história da mineração e do garimpo. A instituição atrai, em média, 420 visitantes todos os meses.

Nery Assunção, historiador e diretor do museu, conta que tudo começou em 18 de março de 1985, quando uma campanha mobilizou a comunidade para a importância de preservar o patrimônio histórico e cultural da cidade, com o apoio da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). A primeira iniciativa concreta para a formação do acervo foi uma gincana cultural que estimulava a doação de peças antigas. À medida que o tempo passava, os primeiros objetos se acumulavam, e fotografias e utensílios indígenas encontrados na região foram adicionados ao acervo inicial.
Em 2018, o Museu passou por um processo de revitalização, no qual foram realizadas adaptações que incluíram tornar o local mais acessível a pessoas com deficiência. O Museu Histórico é composto por várias salas temáticas, cada uma apresentando uma perspectiva única da história local. Entre elas, destacam-se a sala de entrada, em homenagem ao patrono do Museu Desembargador Edmundo Mercer Júnior, as salas sacra; da imagem e do som; do garimpo; das profissões do passado; do tropeiro; do índigena; de projeção audiovisual e uma sala destinada a exposições temporárias. Além disso, o museu conta com uma sala de pesquisa e uma reserva técnica.
Nos últimos trimestres, o museu tem recebido uma média de 420 visitantes, com horário de funcionamento de terça a domingo, das 9h às 11h30 e das 13h30 às 17h, oferecendo ao público a oportunidade de explorar a rica história local e suas exposições cativantes.
Museu Histórico de Tibagi
Praça Edmundo Mercer, 52 – Centro
Contato: (42) 3916-2189
Entrada gratuita
Aberto de terça a domingo, das 9h às 11h30 e das 13h30 às 17h